28.10.07

The Road

Não sei se foi essa a intenção, mas a ideia que mais me tem ocorrido durante a leitura de The Shape of Things to Come, o último livro de Greil Marcus, é a ideia de "estrada" como um daqueles elementos essenciais de que é feita a argamassa que une a cultura americana. A América, que começa por ser um país assente em proclamações, declarações e discursos, regressa sempre, de uma maneira ou de outra, à estrada - ou, num sentido mais naturalista, ao caminho. Marcus fala dos inadaptados: da personagem de Henry Fonda em As Vinhas da Ira; de Jack Bauer, suposto morto, a caminhar com a mochila às costas no final de uma das séries de 24, qual John Wayne pós-11 de Setembro; do homem descrito por John dos Passos no início de U.S.A.: "no job, no woman, no house, no city". E mais à frente fala também de Lost Highway, da última cena, com Bill Pulman estrada fora, a alta velocidade, como se todos os medos do mundo o perseguissem. E perde-se a descrever com detalhe o traço descontínuo da auto-estrada e o que este quererá significar. E podia ainda falar do On the Road, de Kerouac. Ou de On the Road Again, um outro sinónimo para a "república invisivel". Ou em The Road, de Cormac McCarthy, onde a estrada é uma vez mais a casa dos que não têm casa. Nos grandes países, a geografia é determinante. E nela entram a estrada, o caminho, os infindáveis caminhos que acabam sempre por bifurcar e se cruzar, as encruzilhadas onde o destino hesita e se decide.